Pastora San Guidette - Artísta Plástica

I Exposição Nacional de Artes Plásticas de São Paulo


Entrevista concedida pela artísta plástica Pastora San Guidette na I Exposição Nacional de Artes Plásticas de São Paulo.

O evento foi realizada no Iate Clube de Santos no dia 6 de Abril de 2015, organizado pela Academia Latino-Americana de Artes com a curadoria de Fabio Porchat.


Convite da Exposição "Do Imaginário ao Cotidiano em Pinheiros, São Paulo-SP


Entrada da Exposição Cores do Brasil em Budapeste

Quadros e convite da Exposição Cores do Brasil em Budapeste


Pastora San Guidette na Revista Serra

Um histórico de luta em prol da Cantareira
Pastora San Guidette é uma artista plástica residente na Serra da Cantareira desde 1977, para onde foi como opção em relação à vida agitada da Capital. Residia no Jardim São Paulo, até que um dia resolveu resgatar suas raízes de infância. Sua família é de imigrantes e veio da Espanha, para trabalhar na lavoura, no município de Birigui, interior de São Paulo, onde a artista viveu a primeira infância, olhando os campos cultivados e em contato permanente com a natureza.

A atual residência foi local escolhido para esse retorno à natureza, ideal, também, para buscar inspiração. Casada e com filhos, teria ali a tranquilidade necessária para criar e educar os rebentos. Construiu sua casa na V Secção – Parque Petrópolis, removendo o menor número possível de árvores. Mas, logo percebeu que as coisas não eram exatamente como imaginou. Descobriu que ali existiam problemas e descaso do poder público, que nada fazia para preservar o local. Viu que ocorriam invasões de áreas, o lixo de toda espécie eram jogados em meio à natureza, uma situação que degradava o meio ambiente local.

O jeito era resistir e lutar para conter todos aqueles desmandos ou ir embora. Suas raízes de infância falaram mais alto e aí deixou o cavalete de lado e foi à luta como cidadã para defender o local. Em sua empreitada descobriu que não estava sozinha, mais duas amigas se juntaram ao objetivo de por ordem na Serra, Ana Maria Saldanha e Terezinha Lincon. A primeira batalha foi convencer alguns moradores que queriam transformar uma área, onde repousava um lago, em um campo de futebol. A prefeitura enviou máquinas e homens para realizar a obra e, ao verem toda aquela destruição, as três mulheres entraram, literalmente, na frente das máquinas e não deixaram continuar com a destruição de nascentes. Pastora disse que doeu no coração ver a máquina passar, arrastando e jogando terra por sobre as minas d’água que por ali afloravam. A resistência se repetiu por alguns dias; era só as máquinas encostarem e lá estavam as três mulheres para conter a destruição. A luta valeu a pena: elas conseguiram demover a ideia da e a natureza teve de volta o lago, reconstruído pela força das três “guerreiras”. Hoje, frequentado por animais nativos da serra.

Outra batalha desenvolvida por Pastora ocorreu quando houve uma invasão em área de preservação ambiental. Durante muito tempo, a artista, agora uma ativista comunitária, teve que travar lutas judiciais junto ao Ministério Público, secretarias de Estado e Curadoria para transferir as famílias a um lugar adequado, outra batalha vencida pela perseverança.

O lado social, também, fala alto dentro desta artista de sensibilidade ímpar, que retrata em suas obras as lembranças de infância, a cultura popular e, também, a fauna e flora. Ela, percebendo que sua “ajudante do lar” não sabia ler e escrever decidiu ensiná-la. Satisfeita, a funcionária falou que tinha mais algumas pessoas que nunca tiveram acesso a escola. Quem ensina um, ensina dois, pensou. Pastora abriu um horário noturno em sua casa para ensinar seis pessoas que tinham interesse de aprenderem a ler e escrever; no dia combinado, ao abrir o portão de sua casa para a primeira aula, uma surpresa, aproximadamente 40 pessoas estavam ali para participar. E agora? O que fazer?

A solução encontrada pela artista foi conversar com algumas amigas que eram professoras e pedir ajuda naquela nova empreitada. Nasceu, assim, a primeira escola de alfabetização adulta na Serra da Cantareira, que funcionou durante dois anos. O envolvimento de Pastora com as questões da Serra se ampliou quando começou a conhecer outras Associações e descobrir que os problemas eram comuns e, para resolver todas estas questões, a união foi a solução.

Da união mais ampla nasceu a CASC – Congregação de Associações da Serra da Cantareira. Convidada a participar da diretoria, fez parte da gestão que teve como presidente Gean Paolo, quando foi criado o Núcleo Águas Claras. Durante trinta anos Pastora atuou e atua em defesa da Serra da Cantareira, e todo este trabalho é reconhecido por amigos e moradores da V Secção – Parque Petrópolis.

Ao visitar seu espaço para conhecer suas obras, a reportagem registrou a existência de uma placa com o nome “Recanto da Pastora, uma homenagem de seus amigos”. A placa era para ser colocada no lago, como queriam os moradores, em reconhecimento da luta travada. Ela preferiu deixar a placa em seu atelier, por modéstia.